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O Projecto tem como propósito estudar, editar e dar a conhecer a secção final da Crónica Geral de Espanha de 1344, texto historiográfico português da autoria do Conde Pedro de Barcelos. Apesar de ter sido sido objecto de duas edições críticas – uma por Luís Filipe Lindley Cintra, publicada entre 1954 e 1990, e outra por Diego Catalán e Maria Soledad de Andrés, datada de 1970 –, a secção final desta obra, contemplando os reinados castelhanos de Afonso X a Afonso XI, permanece inédita. Com início em Abril de 2014 e duração prevista de 12 a 18 meses, o Projecto, financiado pela FCT e pelo programa COMPETE, e desenvolvido no âmbito do Seminário de Literatura, Pensamento e Sociedade (SMELPS) do Instituto de Filosofia, Unidade de Investigação e Desenvolvimento da FCT, está a cargo de uma equipa de filólogos constituída por Maria do Rosário Ferreira (investigadora responsável), José Carlos Ribeiro Miranda, Filipe Alves Moreira, Ana Sofia Laranjinha e Maria Joana Gomes, investigadores do SMELPS, contando ainda com o apoio de um grupo altamente qualificado de consultores especializados nas áreas científicas pertinentes para o trabalho a desenvolver. Este website é dedicado à divulgação do work in progress da equipa ao longo da duração do Projecto. Noticia os eventos científicos promovidos no seu âmbito e a participação dos seus investigadores em reuniões científicas exteriores, além de partilhar com a comunidade científica o estado da investigação sobre a Crónica de 1344, muito particularmente os avanços produzidos pelo trabalho da equipa à medida que estes vão sendo alcançados.

 

A Crónica de 1344 teve uma transmissão textual atribulada – com uma reformulação circa 1400, uma abreviação e continuação pouco antes de 1460, e sucessivas traduções para castelhano – da qual resultou uma tradição manuscrita bilingue e lacunar. Estas circunstâncias tiveram consequências na difusão editorial do texto. Não há testemunhos portugueses da 1ª redacção da crónica, e os dois castelhanos existentes (M e E) são lacunares, estando perdido o texto posterior ao reinado de Afonso VII. Quanto à 2ª redacção, nenhum dos testemunhos portugueses representa adequadamente o texto subsequente à morte de Fernando III. Dos manuscritos do séc. XV, L contém, a partir daí, capítulos da Crónica de Afonso X; e P continua com um texto próprio a história dos reis de Castela e Leão até à morte de Henrique de Trastâmara. Apenas em manuscritos castelhanos decorrentes de um ponto mais alto da derivação textual (U, Q, S e N) se encontra uma versão da crónica íntegra no seu final. Aí, após Fernando III, a dinastia castelhano-leonesa prossegue com os reinados de Afonso X, Sancho IV, Fernando IV e Afonso XI até à batalha do Salado. A edição crítica de Luís Filipe Lindley Cintra incidiu no texto português da 2ª redacção, tomando como base o manuscrito L, mais fidedigno, corrigido com P, U, Q e M. A partir do reinado de Fernando III, não havendo correspondência textual de nenhum dos manuscritos portugueses com a versão preservada em castelhano, o editor deu por terminada a edição do texto da Crónica de 1344, apresentando em apêndice os segmentos de L e P acima referidos. A legítima secção final da crónica, relativa à história dos reis de Castela e Leão de Afonso X a Afonso XI e privativa dos manuscritos castelhanos, ficou inédita.

Exceptuando um reduzido número de filólogos, este texto é desconhecido da comunidade científica. Trata-se, porém, de uma peça importante no complexo entrecruzamento de textos historiográficos portugueses e castelhanos que, nos anos mais recentes, tem suscitado um renovado e frutífero interesse por parte dos estudiosos de ambos os lados da fronteira. Para além dos aspectos filológicos, destaca-se pelo interesse histórico e cultural que reveste. Elaborado na década de 1340 pelo mais proeminente fidalgo de Portugal, com conhecidas ligações à nobreza castelhana rebelde, e incidindo sobre os reinados recentes de Castela e Leão, documenta uma visão privilegiada das relações entre os reinos peninsulares e entre a aristocracia e a monarquia nessa conturbadíssima época da história ibérica. É, pois, de prever que traga esclarecimentos sobre os novos equilíbrios sociais e as novas estratégias políticas que então se definiam e que vieram tornar obsoleto um ideário plenamente medieval. A ligação à batalha do Salado, marco importante na obra do Conde de Barcelos e acontecimento determinante na conceptualização e na pragmática da relação com o mundo muçulmano a nível peninsular, permite esperar avanços na área da interculturalidade. 

A problemática textual e cultural suscitada pelo texto exige a especialização em diversas valências técnicas e científicas, o domínio das metodologias comparativas e filológico-hermenêuticas essenciais para o tratamento adequado dos textos historiográficos medievais, além de familiaridade com o contexto histórico e cultural ibérico do século XIV, o que levou à constituição de uma selecionada equipa de investigadores e consultores. O resultado mais visível do Projecto será a publicação, em papel e suporte digital, da edição crítica do texto e de um conjunto de ensaios que irá trazer perspectivas inovadoras ao estudo da intertextualidade entre os âmbitos culturais dos reinos de Portugal e de Castela-Leão, promovendo o avanço no conhecimento da historiografia e dos seus meios de escrita no espaço ibérico medieval. A divulgação dos resultados será assegurada ao longo do Projecto pela participação dos investigadores da equipa em colóquios internacionais, pela publicação de artigos em revistas científicas e pela difusão de transcrições dos manuscritos relevantes, bem como de pela partilha de outros dados do work in progress neste website.

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