O MELE, "Da memória escrita à leitura do espaço: Pedro de Barcelos e a identidade cultural do Norte de Portugal" (POCI-01-0145-FEDER-032673), é um projecto científico financiado pela FCT por intermédio do programa Horizonte 2020 e desenvolvido no âmbito do Seminário Medieval de Literatura, Pensamento e Sociedade (SMELPS) do Instituto de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde o projecto se encontra alojado.
O projecto visa tornar mais conhecida, junto de um público nacional e internacional, a obra literária do conde Pedro de Barcelos (c.1287-1354), filho natural do rei D. Dinis de Portugal, e pôr em evidência a forma como a sua escrita (trovadoresca, cronística e genealógica) preserva uma memória histórica e cultural que se projecta ainda hoje no espaço geográfico Português e tem implicações na construção da identidade colectiva nacional e regional dos portugueses.
A obra de Pedro de Barcelos, que foi a mais marcante figura da literatura portuguesa anterior ao séc. XV, destaca-se pelo seu significado histórico e político, transparecendo nela uma teoria do poder idiossincrática, enquadrada numa mundivisão agregadora de territórios e povos. A investigação levada a cabo pelo MELE terá como fulcro a escrita historiográfica deste extraordinário mas pouco divulgado autor, mais especificamente a sua obra genealógica, o chamado Livro de Linhagens do Conde, cuja geografia privilegia o território português e sobretudo a região Norte, local de origem das mais antigas linhagens tratadas nesse nobiliário. A incidência nas famílias originárias do território do norte de Portugal resulta numa particular ligação à paisagem natural ou humana e às tradições narrativas ou etnográficas dessa região, cujo eixo é o Douro e cujo ponto focal se pode situar em Lamego, em cujos arredores – Lalim – o próprio Conde tinha o seu paço senhorial, onde o nobiliário terá sido redigido. Como passo imprescindível da recuperação dessa memória ancestral, da sua integração no espaço geográfico e da sua interpretação no tempo presente, temos então a edição e estudo do Livro de Linhagens do Conde, que constitui o principal objectivo científico do Projecto.
O projecto assim formulado desenvolver-se-á em duas vertentes complementares, uma com base filológica e hermenêutica, a outra virada para a semiologia do espaço.
A 1ª edição crítica do Livro de Linhagens do Conde, datada de 1980, está há muito esgotada, considerando o Professor José Mattoso, autor da edição e consultor do MELE, que os avanços no conhecimento da tradição manuscrita e na própria disciplina filológica a tornaram ultrapassada. A equipa do MELE irá dar uma vez mais a público este texto fundamental da cultura portuguesa, elaborando uma nova edição em papel e disponibilizando também uma edição digital. Este labor será evidentemente acompanhado pela publicação de estudos filológicos e históricos incidindo na problemática da obra.
Paralelamente, a equipa irá também identificar, estudar e mapear o património material e imaterial do Norte de Portugal relacionado com o Livro de Linhagens ou vinculado à figura do Conde de Barcelos, pondo em destaque a forma como a vertente literária permite a interpretação da paisagem e da cultura do Norte de Portugal, procedendo assim à leitura do espaço actual, natural e humano, a partir da memória escrita medieval que dele nos chegou. O (re)conhecimento do passado que o projecto MELE se propõe alcançar com base na articulação entre o estudo da obra literária de Pedro de Barcelos e o património material e imaterial que essa obra evoca ou para o qual remete criará um importante repositório de conteúdos, ideias e conceitos cuja relevância transcende largamente o mundo académico tradicionalmente fechado sobre si próprio. Os resultados assim obtidos não só estimularão novos trabalhos científicos na área dos estudos medievais, mas enriquecerão ainda o capital simbólico da região Norte, pondo à disposição do público universitário, da sociedade civil, das instituições locais e do mundo empresarial, consoante for o caso, investigação recente, edições de texto com rigor filológico, informação crítica e conteúdos de divulgação fidedignos e apelativos.
O MELE conta com uma equipa altamente qualificada nos domínios filológico-hermenêutico, das humanidades digitais e da história e património, cujos trabalhos serão coordenados por uma comissão directiva constituída por Maria do Rosário Ferreira (IR), José Carlos Ribeiro Miranda (co-IR), Maria Joana Gomes (coordenadora das tarefas editoriais), Mariana Leite (coordenadora das tarefas de reconhecimento do espaço) e Aurélio Paulo Barradas (coordenador da ligação com os poderes locais).
Agrega também, como consultores, um grupo de reputados especialistas nas várias áreas de incidência das tarefas que o projecto se propõe executar.
Pedro de Barcelos e a identidade cultural do Norte de Portugal
Da Memória Escrita à Leitura do Espaço
POCI-01-0145-FEDER-032673